Sociedade. Desconectando nas férias: “A ditadura da lucratividade é monstruosa”

O verão é a hora de se reconectar com a “magia do cotidiano”?
Férias nos convidam a mudar o ritmo e nos abrir para o que pode acontecer. Com a condição de conseguirmos nos desvencilhar das imposições. Algumas pessoas tiram férias não para se encontrar, recarregar as energias ou tomar um banho de vida, mas para estabelecer novas metas, para "fazer das férias um sucesso".
Por que colocamos tanta pressão sobre nós mesmos, mesmo nas férias?
"É uma questão filosófica extremamente profunda. Nossa relação com o mundo é cada vez mais uma relação de gestão. Precisamos administrar nossas vidas, administrar nossas emoções. Existir significa maximizar o que somos para obter o máximo retorno disso. Todo o meu trabalho filosófico, de livro em livro, visa demonstrar que essa ideologia, essa ditadura da lucratividade, é monstruosa."
Por que isso é um problema?
Vivemos com essa terrível ilusão que culpa os indivíduos por não fazerem o suficiente, por não serem mães ou funcionárias boas o suficiente. Esse padrão transfere a responsabilidade para os indivíduos, quando deveria ser responsabilidade da sociedade.
" Deixe-se em paz"Como se libertar disso?
“Você precisa começar se dando paz! Não estou falando de desistir, de não fazer nada, mas de fazer as coisas sem pressão. Fazer porque você quer, porque você quer fazer da melhor forma possível. Todos os grandes chefs e artistas que conheço me dizem que é conectando-se com seus desejos, sem se pressionar, que eles dão o melhor de si!”
Isso significa mudar sua abordagem?
É uma reversão completa. Em vez de controlar tudo, eu me abro para a magia que já está lá, e que vai me nutrir, me surpreender, me transformar e me acalmar. Criar uma conexão mais calorosa, verdadeira e sincera vai me realizar. Caminhar vai me permitir conectar com a montanha. Quando você está sob pressão, não consegue fazer nada; a pressão te destrói. A magia do cotidiano é mudar seu regime. Não é apenas ser mais lento; é estar aberto a um encontro que você deixa ressoar e te transformar.
Expresso Orgânico
27 de setembro de 1967: Nascimento em Paris, filho de pai contador e mãe técnica em farmácia.
1985: Iniciou seus estudos de filosofia na Universidade Paris I Sorbonne.
1987: Conhece o neurocientista Francisco Varela, que o apresenta à meditação.
1997: Publica seu primeiro livro: A Prática do Despertar de Tilopa a Trungpa : A Escola Kagyü do Budismo Tibetano (Editions du Seuil, coleção “Pontos”).
2001: Tese de doutorado em filosofia sobre o significado do sagrado nas obras de arte modernas na Universidade de Paris 1.
2004: Fundou a coleção “Évolution” na Pocket e, em 2020, “Fabrice Midal apresenta” na Robert Laffont.
2006 – 2009: Produz programas de filosofia sobre a cultura francesa
2006: Fundou a escola de meditação Reso.
2017: Publicado Deixem-se em paz ! E comece a viver (Flammarion)
Sua abordagem é filosófica?
Sou, antes de tudo, um filósofo, no sentido de que tento compreender as razões do nosso confinamento. Nossos problemas são frequentemente muito mais filosóficos do que psicológicos. Por que as pessoas sofrem de burnout hoje em dia? Se olharmos para isso de uma perspectiva psicológica, podemos explicá-lo por um sentimento de desconforto com o pai, com a mãe, ou relacioná-lo à personalidade...
Se analisarmos a questão de um ponto de vista filosófico, você está sofrendo de burnout porque nossa sociedade está em uma lógica onde levamos os indivíduos ao limite, sob o pretexto de que esse é o caminho para se tornarem o melhor de si mesmos.
A filosofia aqui é libertadora: você não tem culpa de estar estressado e exausto, de se sentir confuso às vezes, de não saber mais o que precisa. Você é simplesmente adaptável demais. Dizer não à pressão e às mentiras sociais já é o que Platão propôs tão acertadamente.
“Negar nossas emoções é nos privar de uma ajuda valiosa.”A filosofia pode mudar o mundo?
Com certeza! A filosofia também nos permite encontrar um caminho para a paz, compreender melhor o significado das nossas emoções e seu papel essencial nas relações humanas. Vivemos sob a ilusão de que existem emoções positivas e negativas. Este é outro conceito falso e perigoso.
Todas as emoções vêm nos dizer algo. Recusá-las é nos privar de uma ajuda preciosa. A raiva nos permite agir, expressando que não somos respeitados, que nossa integridade é maltratada. Ela expressa a necessidade de restaurar a ordem e defender nossa dignidade, de expressar uma revolta diante da injustiça. A raiva só se transforma em ódio e violência quando se descontrola por não ter sido reconhecida a tempo.
Le Bien Public